sábado, 19 de janeiro de 2013

DURABILIDADE DAS MÍDIAS



BIBLIOGRAFIA GERAL
VEJA, Revista. Bomba de tempo. Artigo. Seção: Tecnologia. 18/02/1998. p. 61.
MUNDO DA IMAGEM, Periódico. Revista Veja errou sobre durabilidade das mídias. Artigo.
Seção: Brasil. Cenadem.

APÊNDICE 2: BOMBA DE TEMPO
Pesquisa revela que dados em CD-ROM se perdem mais rápido do que se imaginava. Depois
do bug do milênio, o defeito estrutural que impede os computadores de reconhecer a virada do
ano de 1999 para o 2000, outra ameaça está tirando o sono dos especialistas em informática.
Um número incalculável de informações armazenadas em CD-ROM pode desaparecer com o
tempo. O pesadelo ganhou contornos graves depois que testes feitos pelo instituto americano
National Media Lab mostraram que em apenas cinco anos um CD-ROM padrão deixa de ser
confiável. Por causa do desgaste do tempo, alguns dados contidos em CDROMs de 1993
deixaram de ser lidos em computadores comuns. No caso dos CD-ROMs regraváveis, o
resultado foi ainda pior. A qualidade começou a cair depois de apenas dois anos de uso. O
grande vitorioso no teste de durabilidade foram os arquivos em papel, que, guardados de forma
apropriada, podem ser usados depois de 100 anos. Uma prova de durabilidade são os livros
antigos, como as bíblias impressas no século XV por Gutenberg - com a ressalva de que, na
época, o papel era feito de fibras de tecido e não de celulose, como atualmente.
Os testes do National Media Lab são tecnicamente corretos. Os produtos analisados
pertencem ao arquivo nacional americano e estavam acondicionados em condições quase
ideais, a uma temperatura estável em 20 graus e umidade relativa do ar de 40%. Mesmo
assim, os resultados devem ser tomados com cautela. "O CD-ROM continua sendo um arquivo
extremamente confiável", diz Alfred Kramp, da produtora de CDs Microservice. "Qualquer
pessoa que tenha em casa um CD sabe que depois de cinco anos ele continua tocando muito
bem." O que os testes no arquivo americano demonstram é que alguns dados contidos em CDROMs
se perdem com o tempo. Isso não significa que o disco esteja inutilizado ou que as
informações perdidas não possam ser resgatadas. Um dos motivos desse desgaste, segundo a
pesquisa, é a falta de manutenção. Ao contrário do que ocorre nos livros e jornais, nas fitas
magnéticas e discos ópticos os sinais de desgaste só aparecem quando é tarde demais. "A
pesquisa é um alerta a todos que trabalham com arquivos", diz Deanna Marcum, presidente do
Conselho de Informação e Biblioteca do governo americano. "Ainda mais hoje, quando quase
todos os arquivos estão em meio digital."
Bomba-relógio - Tão espantosa quanto a fragilidade da mídia digital é a rapidez com que essa
tecnologia se torna obsoleta. Um dos alertas da pesquisa americana é justamente para a
quantidade de informações que foram guardadas em disco e que hoje não podem mais ser
lidas porque são incompatíveis com os softwares atuais. A universidade americana Yale perdeu
tempo e dinheiro transferindo 2000 livros de microfilmes para discos ópticos. No meio do
projeto, descobriu-se que a tecnologia que estava sendo usada tinha ficado obsoleta e o
trabalho foi interrompido. "É como uma bomba do tempo", diz Donald Waters, da federação das
bibliotecas digitais americanas. "As pessoas só percebem que não podem mais acessar a
informação quando o equipamento antigo já foi para a lata de lixo." É para evitar que esse tipo
de sobressalto que grandes bibliotecas devem fazer constantes atualizações de seus arquivos
e ainda copiá-los em servidores da internet. Ironicamente, alguns projetos no setor de
informática parecem uma volta ao passado. A empresa de software Coblestone criou um
sistema chamado paperdisk que usa papel para imprimir códigos de arquivos. O produto,
anuncia a empresa, tem vida útil de 100 anos e condições de resistir a calor,frio e choques
magnéticos. Exatamente como o velho papel. Memória frágil - Veja em quanto tempo começam
a se perder informações guardadas em cada tipo de arquivo, segundo pesquisa do National
Media Lab dos Estados Unidos:
DURABILIDADE DAS MÍDIAS
MICROFILMES 10 ANOS
CD-ROM 5 ANOS
FITAS VHS 2 ANOS

APÊNDICE 3: REVISTA VEJA ERROU SOBRE DURABILIDADE DAS MÍDIAS
A Revista Veja, na edição nº 1534, de 18 de fevereiro de 1998, publicou na página 61
reportagem com o título "Bomba de tempo". O subtítulo não foi menos explosivo: "Pesquisa
que dados em CD-ROM se perdem mais rápido do que se imaginava". Nas duas semanas que
se seguiram à publicação daquela Veja, literalmente não fiz outra coisa senão atender
telefonemas de todo o Brasil. Eram de usuários, usuários em potencial e fornecedores
assustados com a "Bomba de tempo". Projetos foram cancelados ou adiados. Soubemos que
um Tribunal de Contas estadual suspendeu uma concorrência. Empresas de digitalização
tiveram suspensas propostas em andamento. Enfim, a matéria da Veja foi realmente uma
"Bomba" e sua explosão causou estragos sérios e fez muitos feridos.
O texto, não assinado, está repleto de erros. Só para mencionar um único, fala em CD-ROM
regravável. Ou seja, confunde ainda mais um mercado que está carente de informações
precisas e termos definidos. Mas esse foi o pecado menor do texto de uma página e cinco
ilustrações. O grande estrago causado pelo bombardeio da Veja foi afirmar que fitas VHS, CDROM
e MICROFILMES "começam a perder informações" depois de dois, cinco e 10 anos,
respectivamente. Foi isso que explodiu nas mesas de profissionais e responsáveis em todo o
Brasil, pelo manuseio de informações em mídias tais como as ópticas. Justo no momento em
que o Brasil está crescendo cerca de 70% ao ano no mercado de Gerenciamento Eletrônico de
Documentos (GED).
O pior de tudo, e realmente desastroso, é que a Veja em toda a reportagem fundamenta-se em
testes conduzidos pelo famosíssimo National Media Laboratory (NML). Trata-se de uma
importante organização dos EUA, que presta serviços para o governo americano sobre
preservação de arquivos e mídias. Veja menciona o NML três vezes.
Matéria da Veja foi copiada.
Tão logo li a matéria, que estragou também o meu domingo de 15 de fevereiro, acionei o
escritório do CENADEM nos Estados Unidos para levantar tudo a respeito do assunto. O
resultado foi simplesmente assustador. Mas deu para desarmar a incrível "Bomba de tempo".
O que descobri em menos de 72 horas de pesquisas nos EUA foi incrível. A reportagem da
Veja foi uma tradução, aliás bastante distorcida, de uma reportagem publicada pela revista
americana U. S. News & World Report (U. S. N&WR), de 16 de fevereiro de 1998. Esta
reportagem do U.S. N&WR assinada por Laura Tangley recebeu o espalhafatoso título "Opa, lá
se vai outro CDROM". O U. S. N&WR também é uma revista semanal. Claro, acredito que Veja
mantenha acordos com tais publicações o que é absolutamente normal. Também houve as
"nacionalizações" de matérias.
Veja falou da Bíblia, em vez de discorrer sobre a Declaração de Independência dos EUA. Até aí
tudo dentro dos parâmetros editoriais internacionais. Veja até mencionou frase de um
funcionário da Microservice. Neste momento começou o enorme erro. Em vez de ir buscar
depoimento do cientista Alfred Kramp, da Microservice, nossos competentes amigos, melhor
teria sido checar informações junto ao próprio National Media Laboratory. Foi o que fez o
escritório do CENADEM nos EUA, que contatou o Dr. John W. C. VanBogart que é o "Data
Preservation Scientist" do todo poderoso National Media Laboratory, com sede em Saint Paul,
MN, EUA.
Em vez de bomba, carta demolidora.
Atencioso, o Dr. VanBogart enviou para o escritório do CENADEM nos EUA cópia da carta que
enviou para a revista U.S. N&WR, no dia 19 de fevereiro de 1998, ou seja, três dias após a
data de capa da mencionada publicação. Ele enviou cópias da sua carta para várias outras
pessoas, inclusive algumas mencionadas na reportagem da U. S. N&WR e também
mencionadas por Veja.
Carta do NML para a U. S. N&WR
Transcrevo a seguir, e na íntegra, a carta que o Dr. VanBogart enviou para a mencionada
revista, com a devida autorização do autor:
"Senhoras e Senhores:
Fiquei extremamente perturbado quando li, no exemplar de 16 de fevereiro de 1998 da U. S.
News e World Report, o artigo entitulado "Opa, lá se vai outro CD-ROM". Nele, são feitas
declarações totalmente incorretas, atribuídas ao "National Media Laboratory". É apresentado,
também, um gráfico seriamente distorcido das descobertas da pesquisa do NML. Esse artigo
afeta negativamente a credibilidade do National Media Laboratory (NML), do Council on Library
and Information Resources (CLIR) e da U. S. News and World Report (U.S.N&WR).
O artigo declara que 'testes feitos pelo National Media Laboratory mostram que as fitas VHS de
primeira linha, armazenadas em temperatura ambiente, mantêm fielmente os dados por
somente uma década'. É uma declaração completamente falsa. Dizer que os 'CD-ROM de
média qualidade se tornam falíveis ... de cinco anos' é um absurdo. As publicações do NML
confirmam valores bem mais altos para a expectativa de vida de fitas magnéticas e CD-ROM
do que os defendidos pelo artigo da USN&WR. O gráfico da U. S. News and World Report, uma
interpretação daquele feito pelo NML, está errado e é enganoso, especificamente por que:
•   O gráfico original do NML, parte de uma série degráficos, foi projetado para o uso conjunto
com programas de retenção de dados do governo - julgam-se os meios de armazenamento de
informações por sua capacidade de guardá-las por períodos distintos. O gráfico da U. S.
N&WR apresenta a vida útil das mídias dentro de uma série contínua. O do NML mostra que a
mídia CD-ROM de primeira qualidade seria apropriada para guardar informações por 50 anos,
mas não cem anos. Lido corretamente, indica que a expectativa de vida desse veículo se
encontra entre 50 e 100 anos. O gráfico da U.S.N&WR distorce a informação e apresenta, para
o CD-ROM, UMA EXPECTATIVA DE VIDA DE 50 ANOS.
•   Julgar se uma classe de mídias para armazenamento de dados é apropriada para um
programa específico de retenção de dados é diferente de determinar um valor para a
expectativa de vida da mesma classe de produtos. No gráfico do NML, para determinados
períodos de armazenamento, consideram-se aceitáveis todos os principais fornecedores, para
guardar confiavelmente as informações, usando-se a expectativa de vida da mídia de mais
baixa qualidade como padrão do grupo. Para períodos de armazenamento mais longos,
consideram-se aceitáveis somente as mídias acima da média, usando-se a expectativa de vida
média como padrão do grupo. O gráfico da U.S.N&WR distorce sem motivo as informações
relacionadas aos veículos de baixíssima qualidade, atribuindo-as a 'todas as principais marcas'.
•   O gráfico da U.S.N&WR, segundo sua legenda, informa sobre 'a expectativa de vida de
alguns veículos usados para armazenar documentos governamentais e outras informações...'
Os números ridiculamente baixos do gráfico, somados a essa declaração, deixam no leitor a
impressão de que os documentos do governo norte-americano não estão sendo guardados
corretamente e que as informações importantes estão sujeitas a serem perdidas. E dá-se como
fonte dessa informação o National Media Laboratory. O gráfico do NML discute a longevidade
de vários tipos de mídias sem referência específica a nenhum órgão governamental, empresa
ou profissão.
•   O gráfico da U.S.N&WR mostra tipos de veículos, como o 'rolo de fita magnética de meia
polegada', que fazem parte do gráfico do NML.
•   A informação distorcida por esse artigo foi obtida da página do NML na Internet (Erro!
Indicador não definido.). O NML incumbe-se principalmente de fornecer ao governo dos
Estados Unidos as melhores soluções comerciais disponíveis para a coleta, utilização,
disseminação e o arquivamento de dados. Entretanto, a informação que beneficia o governo
pode também ajudar a indústria e as instituições educacionais. Por esse motivo, as publicações
e outras pesquisas do NML são distribuídas gratuitamente pela Internet. Os direitos de uso da
página do NML na Rede determinam que, quando usadas suas pesquisas:
- O NML deve ser informado de cada passo;
- Não deverão ser mudados o conteúdo ou a apresentação do arquivo original.
Uma semana antes da publicação, quando informado de que a U.S.N&WR publicaria um artigo
usando suas fontes, o NML fez alguns pedidos simples:
- Que o gráfico de expectativa de vida fosse usado na totalidade, sem alterações;
- Se fossem feitas modificações, o NML não poderia ser citado como fonte da informação.
O NML pressupôs ser fácil para um leigo distorcer as informações sobre expectativa de vida.
Os pedidos acima não foram atendidos e a U.S.N&WR foi publicada com um gráfico de
expectativa de vida representando uma distorção flagrante do original do NML. A U.S.N&WR é
responsável pela difusão de informações falsas referentes à longevidade do armazenamento
de informação nos meios de comunicação. A informação publicada na U.S.N&WR não se
originou do National Media Laboratory e estamos revoltados por nos apontarem como fonte. O
NML foi colocado em uma situação constrangedora e perdeu credibilidade. A U. S. News and
World Report deve aos leitores e ao National Media Laboratory um pedido sincero de
desculpas".
O caso dos microfilmes
Nem o texto do artigo da U.S.N&WR e tampouco o da Veja menciona o microfilme. Este só
aparece na ilustração da Veja e no gráfico publicado pela revista americana. Um dos gráficos
do NML mostra que o microfilme de qualidade arquivística (sais de prata), armazenado a 20º C
e umidade relativa de 40%, pode durar 200 anos. Armazenado a 10º C e 25% de U.R. pode
chegar a 500 anos. Em ambos os casos, se for dos principais fornecedores.
Gráficos estão desatualizados
Todos os gráficos aqui mencionados foram desenvolvidos no NML pelo Dr. VanBogart em 1995
e atualizados pela última vez em janeiro de 1996. Sobre o assunto, ele escreveu para o
escritório do CENADEM nos EUA no dia 20 de fevereiro: "nós consideramos que esses gráficos
estão desatualizados e estão em um processo de atualização".
Segundo um relatório da OSTA - Optical Storage Technology Association, EUA, de acordo com
as condições de armazenamento, O CD-R, por exemplo, pode durar mais de 200 anos. (APAS)

AUTORES


Amadeu Evangelista
Israel Vianna
Carolina Mayume